Entrou com passos apressados. Se fosse noite, talvez eu pudesse ouvir o eco de seu salto alto. Mas era manhã, quase primavera.
Ameaçou sentar-se num banco, mudou de idéia, deu mais dois passos e sentou-se logo a frente do meu.
Não notei seu rosto, pois sua blusa preta, saia grafite e sapatos chamavam mais atenção.
Tinha na mão esquerda uma grossa pulseira e no dedo mínimo uma aliança de prata. Na mão direita outra pulseira e um relógio pequeno, talvez para reforçar a teoria paulistana de que o tempo é curto.
De repente começa um ritual:
Espelho... batom... rímel... pó.
Um acerto no decote da blusa.
O cabelo, antes solto, agora estava em forma de rabo-de-cavalo. O que parecia não combinar era o elástico vermelho que formava o tal penteado. Mas quem veria um elástico vermelho, além de mim, sentado num banco imediatamente atrás dela?
Vi seus olhos de relance, num movimento para guardar o espelho na bolsa e pegar os óculos escuros. A mão esquerda deslizava os cabelos atrás da orelha nua.
Olhou no relógio.
Corria para o futuro.
Ficou mais bela sem se importar com o tempo e, enquanto se ajeitava, nem se lembrou que aquele dia era seu aniversário.
PS. O aniversário é invenção do autor.
5 comentários:
Vá, idade... Vaidade
ADOREI!!!!!!!!!!
O retrato do dia-a-dia corrido. Muuuuuuito bom.
Eh... as obrigações, diversos afazeres, estar sempre apresentável e impecável. Mulher sofre...rs.
Esquecer do próprio aniversário... deixou um ar de solidão. Tão triste.
Bjo
=)
Legal o "vá, idade", mas prefiro o eco dos passos. Enquanto eu via a cena e mentalizava o que iria escrever, me veio a sensação de "salto alto alto"
O final foi muito bem analisado por você Tatha, eu não tinha me dado conta da tal solidão.
O texto foi escrito em uns vinte minutos, desde quando ela entrou, até o momento em que eu desci do ônibus.
Espero que a pessoa que me inspirou a escrever tenha um ótimo relacionamento com o namorado, família, amigos, Deus.
Um beijo!
Alcides
Beijos!
Alcides
Na verdade eu gostei do tempo curto comparado a um relogio pequeno...mania de paulistano ter relógio e olhar o tempo todo e nem vê que o tempo mais rapido do que percebemos...e aí vá idade...rs...
Nossa,sua inspiração surge a quakquer hora isso é que é ser poeta!!!!!!!!!!
Primeiro que o título por si só já dava uma tese de doutorado (!!!). Olha....que coisa doida isso...qdo se é jovem, preocupa-se com vaidade; qdo se amadurece, preocupa-se em ser. Aff!! Demais! Belíssima sacada, meu caro!
O Texto todo condiz: é lindo!!
Obrigada por essa pérola! Beijos
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