quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Amores difusos

E lá estou eu navegando, navegando e navegando...
Resolvi compartilhar um texto de Ivan Martins, publicado hoje, 16/01/2013, no site da Revista Época


Não é preciso ser moderno para perceber que a nossa vida comporta amores simultâneos. Podem ser paixões dilacerantes e sombrias, como nos filmes, ou pode ser algo mais suave – um sentimento de atração que, mesmo não consumado, faz da vida um lugar melhor para os envolvidos. 


Todos conhecem esse tipo de sentimento. 
Há gente que nós temos vontade de ver todos os dias, cuja presença nos deixa naturalmente mais alegres. Temos prazer enorme em abraçar gente assim e a conversa com elas é mais íntima, mais fácil, mais interessante. Uma alma destituída de malícia diria que isso é amizade, mas eu tenho certeza que se trata de uma forma de erotismo – sem posse, sem dor, sem pressa, mas é desejo que resiste ao tempo. Essa não é uma forma de definir o amor? 
A principal qualidade dessa sensação é ser plural.
Não nos sentimos enamorados de todo mundo, mas tampouco temos esse tipo de apego por uma única pessoa. São várias. Pode ser a ex-namorada do colégio, a amiga da faculdade, a prima. Pode ser a garota da livraria ou a moça do bandejão que virou sua amiga. A lista não será grande, mas é uma pena, porque se trata de um sentimento bom. Não é gostoso ficar feliz quando toca o telefone? 
Você não sai transando com essas pessoas, embora pudesse fazê-lo. Você não sofre por essas pessoas, embora possa ter acontecido. Essa relação navega entre o encantamento e a amizade, tem um pouco das duas, e fica a centímetros de se tornar inteiramente uma delas. Movemo-nos entre sutilezas.  

O que você faz com alguém que ama difusamente é ter momentos de troca e carinho, que carregam uma ponta secreta de expectativa. Se um dia você bebe demais e diz sinceridades comovidas, ela pode rir, beijar você ou ficar brava e mandar que se comporte – mas tudo seguirá como antes. Nessa relação há espaço para ser você mesmo. 
Os amores difusos fazem parte da esfera de sentimentos que começa na pessoa que você escolheu e vai se expandindo num círculo para incluir outras pessoas de quem você precisa. Família, amigos, amores. Nenhum casal é uma ilha. Ao redor do compromisso que mantém duas pessoas ligadas há uma vasta teia de ligações, com diferentes graus de densidade, que vinculam o casal ao mundo. Os amores difusos são uma parte especialmente delicada dessa teia. 
Isso nada tem a ver com relações abertas, porém. 

Admitir a existência de carinho e desejo fora da sua relação amorosa é apenas uma manifestação de sanidade. Tentar viver todas essas sensações é uma besteira. Criar arranjos matrimoniais que acomodem esses múltiplos sentimentos é ainda mais fútil. A melhor solução para quem deseja correr atrás de todos os seus desejos não é um namoro ou um casamento aberto. É estar sozinho. Assim se conquista total liberdade, sem culpas ou constrangimentos. 
Ando convencido que a nossa vida afetiva tem uma espécie de centro e que nele só cabe uma pessoa de cada vez. As nossas grandes aventura emocionais, a nossa verdadeira história íntima, são escritas ao redor dessa exclusividade. Pode ser uma paixão que não deu certo ou um casamento fabuloso de 20 anos, mas continua sendo uma narrativa entre duas pessoas. O resto é tumulto.

Os amores difusos pertencem a outra esfera, e por isso não colidem.

Eles são menos viscerais, mais leves, nos lembram que podemos experimentar diferentes alegrias na mesma existência. Sugerem que o grande amor romântico – esse que nos devora vivos, ou nos envolve suave como um lençol de linho – é apenas uma das experiências do afeto. Há outras, essenciais. Elas preenchem a existência com outra espécie de luz, igualmente necessária para mostrar nosso caminho.

=)

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Intimidade

Bom dia!!!!
Ano novo começando e eu só tenho que agradecer a Papai do Céu pelo bom ano que foi 2012.
Só tenho a agradecer pelo meu trabalho, pela minha saúde, pela minha familia, pelos meus amigos.
E agradecer o belo ano que vem nascendo!
Desejo a todos, um 2013 repleto de muita paz, saúde e prosperidade!

=)

E nas minhas andanças pela web, achei esse texto e resolvi compartilhar
Gostei bastante da sutileza das palavras e delicadeza com se que trata de um assunto que nos parece tão corriqueiro... intimidade.
Destaco ainda a frase que mais me chamou atenção:

"Intimidade é reconhecer o significado do silêncio e da quietude de quem se ama."

O texto é de Ricardo Coiro e foi extraído daqui



Segunda-feira chuvosa em São Paulo. Trânsito caótico. Estava afogado em um imenso e interminável maremoto de carros, ônibus, caminhões e todo tipo de obstáculo capaz de fazer com que eu perdesse a sessão de cinema, para a qual eu rumava naquele dia cinza. O expediente também não havia sido nada bom. Tinha suado sangue para cumprir os prazos impostos pelo cliente e adivinha? Depois que entreguei o pedido, descobri que aquilo era somente para próxima semana. E mais, naquela manhã, derrubei quase um litro de café fervendo em cima do meu saco, ou seja, além de fritar minhas amadas bolas, ainda passei o dia inteiro ouvindo piadinhas bobas, feitas pelos meus colegas de trabalho. Eles diziam: “O Ricardinho ficou menstruado, virou mocinha”. Enfim, tudo conspirava pra que meu dia fechasse com chave de merda. Morreria de ataque cardíaco no trânsito, sem chance de realizar meu último pedido, que era obviamente sair dali de helicóptero.
Logo que ela entrou no meu carro, inteiramente linda e cheirando o mais aromático dos xampus, ela olhou pra mim e, graças ao poder da intimidade verdadeira, reconheceu o estresse estampado em minha testa e, sem que eu precisasse dizer uma palavra ou sair na mão com algum motoboy na rua, ela me fez a mais aliviante das propostas: disse que não estava a fim de ir ao cinema e sugeriu que subíssemos e víssemos um DVD ali mesmo, na casa dela. Sem filas, sem estacionamento lotado, sem esperas. Ela cedeu, fingiu não querer sair e mais: se dispôs a deixar aquele vestido lindo, recém-colocado de lado, e trocou-o por qualquer pano velho. Palmas para a tecla SAP mais importante dos relacionamentos: a tal intimidade.
Ao contrário do que muitos simplistas pensam, intimidade é muito mais do que ficar pelado e não ter vergonha de balançar o pau mole na frente da amada. Intimidade é reconhecer o significado do silêncio e da quietude de quem se ama. É olhar para o lado e saber que ela precisa de um abraço urgente ou que necessita apenas que você se afaste e a deixe só. Intimidade é saber a hora de manter o toque naquele mágico ponto e ser capaz de fazer isso, graças ao timbre do gemido dela e à contração contínua daquela coxa que você aprendeu a observar intimamente. Intimidade é conseguir adentrá-la, sem que ela precise abrir a porta ou mandar convite escrito em formais letras douradas. Intimidade, de verdade, é o sexto sentido que os laços precisam para um atar suave e de menos atrito. É uma junção harmônica de cores distintas. Intimidade não nasce com o casal e assim como nas artes marciais, precisa ser conquistada com muito treino, dedicação, mistura de suor e principalmente, atenção aos sinais cotidianos emitidos por quem se ama. Digo mais, intimidade não tem nada a ver com fazer cocô de porta aberta, pois mesmo em um casal, com intimidade adquirida, sempre haverá momentos de individualidade e esses deverão ser preservados e respeitados.
Não pense que é fácil ser faixa preta nessa tal intimidade. Nem ache que para isso basta o despudor ou a coragem para conter-lhe seus segredos mais obscuros, isso não é intimidade. Para ser íntimo de alguém, você precisa manter os olhos bem abertos e só assim entenderá qual tipo de sorriso ela soltará de acordo com cada peculiar situação. É mais que isso – para atingir essa sintonia verdadeira, você precisa manter os ouvidos iguais aos de seu cão. Não basta fingir que está ouvindo e pensar na morte da bezerra, enquanto ela fala com você. Deve-se escutar cada palavrinha e, só assim, perceberá os desabafos implícitos no discurso despretensioso dela. Se quiser intimidade, precisa estar realmente encostado nela, não apenas penetrado, no sentido sexual, mas de pele colada, de mãos dadas, de nariz roçando, pois só assim será capaz de entender do que ela tem medo e fará isso apenas devido ao sutil apertar dos dedos dela em sua mão.
Intimidade é estar apto a ler os sinais mais complexos do outro. É saber fazer um pedido de casamento utilizando apenas uma simples piscada e tornar-se capaz de compreender o bê-á-bá escrito pelos sorrisos de quem se ama.