segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

O Calor do Centroeste

Esse calor do Centroeste, onde fui criada, me faz pensar minhas raizes, minhas origens. Faz-me refletir sobre minha constituição.
Questiono então se meu lugar é mesmo aí, na selva de pedras.

Hoje to aqui em Brasília, no Guará, na casa da minha avó. A família já sabe que estou aqui. Um sabe e fala para o outro. Daí, só eu atendo ao telefone – é sempre para mim mesmo. Isso é bom. O ruim é não ter tempo para visitar a todos. Minha madrinha acabou de ligar. Disse que está com saudades, que não vê a hora de me dar um amasso, me botar no colo, me fazer tapioca e café.
Minha bisa também já ligou. Ela é uma fofa! Mulher forte, um exemplo! Minha tia Lourdes, minha prima Ágatha, meus primos Denise, Jairo e Leandro...meus primos Tania e Daniel...enfim. São cerca de 70 pessoas a visitar. Bom mesmo é festa em família. Tipo Natal, sabe? Dá para ver todos, saber de todos, todos se divertem e eu não fico devendo visita a ninguém! Ah! Também preciso passar um dia na casa do Diego e da Carol!!! Se eu não for lá, eles me matam! O tio Alfredo também quer que eu durma em sua casa por uma noite, para comer besteira e assistir filme. E também o Jojoca quer ficar comigo – e me cobra todo Santo dia: “quando vou te ver, tia?”.
Não. Eu não estou reclamando da demanda. Isso é maravilhoso! Reclamo é do tempo que é curto demais para tanto amor! Também, amor guardado por um ano – às vezes mais! É amor acumulado!

Esse calor do Centroeste a minha infância, quando voltávamos da escola – eu e a Mê – era quente assim. A gente voltava suando. Era quente e seco. E a terra vermelha, que nunca deixava a vovó feliz com as nossas roupas e sapatos – sempre encardidos. Nada tira essa cor avermelhada. Ela impreguina na saudade.

O céu daqui é bem estrelado. É lindo saber que, de onde vim, dá para ver as estrelas no céu. É poético até. Amo olhar para o céu de Brasília! Dá uma paz....uma sensação de casa, de lugar.

Minha vó tá aqui estendendo a roupa. E eu to aqui, no chão de cimento com terra vermelha, com um objeto nada familiar no colo – o notebook. Isso entrou depois para a minha história, e não se parece nada, nada com as minhas raízes. Mas bem, me ajuda a trabalhar.

Hoje está um dia bem gostoso: eu e a minha vó aqui em casa. Fazendo pavê, ouvindo música, rezando, ouvindo o vento no milharal, lavando a calçada, falando da vida dos familiares e também, claro, discutindo o meu futuro (entenda-se futuro por marido).

Meu primo Leandro disse que vem me ver à noite. Talvez ele não venha. Ele é enrolado. Tenho até medo de ficar esperando...sabe, né?! To tão em paz...! Queria continuar assim. Mas a ansiedade inquieta o coração.

To me sentindo livre e amada. Que melhor sensação pode existir?? Isso é mesmo uma bênção do Céu.

Um comentário:

A Palavra Mágica disse...

Cris,

Já te enviei isto, quando falei de um sonho que agora não me lembro, deve estar em algum arquivo do e-mail.

Senti vontade de ouvir a música, mas ela foi retirada do youtube.

Beijos!
Alcides

Coisas de Brasília
(Oswaldo Montenegro/Mongol)

Era frio e era claro
como a seca de Brasília
eu já não sei se amava ou sonhava
isso eu sei
você era mais loura no meu sonho
que em meu olho, eu sei
meu olho era escuro
pro teu sonho iluminar, eu sei
Era reto e projetado
como as linhas de Brasília
não diga o que eu já sei
eu penso que é mentira, eu sei
a nossa solidão é a do planeta
é quase a mesma, eu sei
atenda o telefone, ouça meu disco
ou saia pra jantar, eu sei
Minha canção era loucura
como a alma de Brasília
contorna, adoça, põe na boca o fel
da louca ilha eu sei
e é quase branca a minha angústia
eu não te amo porque amei
e quando te encontrar
vou perguntar o que valeu