sábado, 7 de junho de 2008

Estela

Não que quisesse, mas estava só.
Sentada à janela de seu conjugado, a lua cintilava um cinza angustiante sobre seu peito e prateava seu wisky, sutilmente. Seu olhar vago era suplicante. Ora bebericava de seu copo, ora tragava de seu bali. E aquele piano vizinho entoava notas de solidão e esquecimento. Toda ela era cinza. Aquela solidão era cinza. As paredes do seu cômodo eram cinza. O parapeito onde se apoiava, mais parecia uma lápide de madeira lascada. Uma lápide olvidada.
Seu momento era; Não estava, nem parecia. Aquele silêncio seria eterno, não fossem as notas que lhe soavam, dando-lhe certa dimensão do tempo. Seca. Não fosse pelo seu wisky, completamente seca. Tristeza desacompanhada de lágrimas; pensamentos envoltos pelo nevoeiro da noite sem estrelas, que se fazia uno com a fumaça do seu bali. O que será daquela lua mórbida e pálida? Parada e quem sabe, também, iludida como ela, Estela - sem se não, sem por quê, sem nada. Toda ela era uma seca chaga.

2 comentários:

Anônimo disse...

A autora deste post é a onisciente, mas eu acho que a Estela, a única estrela na noite, pensava: "Passa nuvem negra/Larga o dia/E vê se leva o mal que me arrasou/Pra que não faça sofrer mais ninguém"

Um beijo!
Alcides

PS.Entre as notas do piano existem dó e SOL.

_TaTHa_ disse...

Caraca,qta solidão.
Todos os detalhes... fizeram me lembrar de um casarão antigo e abandonado. Cena de novela isso.
Só faltou suidicio.
=)