quarta-feira, 21 de maio de 2008

FIM DO EXPEDIENTE



Era fim do expediente na ADV & ADV Associados, um grupo de advogados bastante conceituado naquela metrópole. Instalado em um edifício bem localizado, ocupando a cobertura, cuja parede era de imensas janelas. A luz natural se fazia presente durante grande parte do dia, que além de acolher muito bem os clientes, oferecia uma bela vista panorâmica.

Terça-feira, tarde de outono, o sol poente avermelhado refletia na janela do edifício vizinho e no céu, um misto de tons: azuis, alaranjados e violeta. Depois de quase 10 horas de exaustivo trabalho, debruçado sobre processos e petições, lendo pilhas e mais pilhas de documentos, parei alguns minutos para contemplar aquela vista antes de me retirar e por um instante aquilo tudo me fascinou: meus olhos não piscavam, admirava a paisagem e refletia.... Nunca tinha visto cena de tamanha beleza, ou se tinha, não admirei-a com devida atenção. Estava compenetrado no jogo de cores, na luz, na sombra, no deitar do dia e no nascer da noite.

Ao fundo ouvi um leve caminhar sobre o piso de madeira. Aquele “toc-toc” parecia-me salto alto. Era sutil, delicado e compassado.

Os passos foram ficando mais próximos, a porta se abriu. Senti que alguém se aproximou e de repente apoiou-se sobre a guarda da cadeira.

As mãos brancas, finas, cumpridas e macias desciam acariciando meu peito. Os longos cabelos louros encaracolados debruçavam sobre meu ombro e o perfume doce tocava minhas narinas e tomavam todo o ambiente.

Estava encantado, não tive reação, parecia estar hipnotizado... Era o feitiço da sedução.

Ela, branca, esguia, longilínea, trajava um tailleur grafite, camisa branca, usava uma fina argola de ouro branco cravejada de diamantes, e a echarpe rose de seda italiana ao pescoço completava a composição elegante. A pele alva havia sido queimada pelo frio, pelo vento e nas bochechas, um suave rubor.

Delicadamente, então, girou a cadeira a seu encontro. Sentou-se no meu colo e soltou um belo e malicioso sorriso. Afrouxou minha grava, desabotoou os primeiros botões da camisa. Eu via ali o perfeito contraste entre o desejo e a privação, o instinto e o racional, o poder e o querer, a elegância e a vulgaridade, o divino e o profano. Os lábios molhados e carnudos me desejavam e eu os fitava.

Linda, ela estava linda. Pra mim. Não me contive, sentado, ali mesmo, beijei-a. Tomei-a em meus braços, o instinto tomou conta de mim...

Na mesa... Coloquei-a na mesa...

Meus olhos fixos aos dela. Descalcei seus sapatos. Num leve movimento, entrelaçou seus pés às minhas costas, tomou-me pela gravata e trouxe para si. Beijou-me ardentemente.

Meu coração palpitava, meu corpo ardia desejando-a. Seu olhar meigo, firme e penetrante me instigava mais e mais. Ela brincava com os meus desejos. Enfeitiçou-me completamente. Ela me queria e me teve ali mesmo. Na penumbra da noite que caia, apenas a luz da lua adentrava pela janela. Sentia, junto ao meu corpo nu, sua pele macia e aveludada, os lábios sedentos e o suspiro final ao pé do ouvido. Ela era minha e eu só dela.



=)

11 comentários:

_TaTHa_ disse...

Apresento-lhe meu primeiro conto!
\o/ uRuL!!!!!!!!!!
Bjo
=)

Anônimo disse...

Prazer, Alcides.

Anônimo disse...

Tatha!

Que conto delicioso de se ler! Rico em detalhes e muito bem narrado.

A composição binária mais uma vez presente entre quatro paredes e, do lado de fora, o sol por testemunha e a lua como cúmplice.

Parabéns! Quando leremos o segundo conto?

Alcides

_TaTHa_ disse...

ALCIDES!!!!!!!!!!
Saiu assim, sem querer...
Muuuuuito obrigada pelos elogios, ainda mais quando vindos de uma pessoa que tem imensa sensibilidade para escrever.
Espero que em breve saia outro texto assim.
Bjo
=)

Lucelia disse...

Tatha,

Nossa...que gostoso de ler! Estou super feliz pelo conto, muito inteligente.

Parabéns
Beijos

Flávia Fabri Cesário disse...

Excelente Tatha, parabéns!
Bme escrito, cheio de detalhes... imaginei todo o cenário perfeitamente!
Beijos! :)

Ramoel Rodrigues disse...

O primeiro que não tem cara de primeiro!! Quero dizer, rico em detalhes e proporciona um ritmo muito bom de leitura.

Que venham os próximos!

Anônimo disse...

Tatha do Ceu,

Incrível, adorei, encantador!!

Como pode você além de tantas qualidades saber criar e escrever tão bem??

Bjo,

Jacah

Guto disse...

Grande Sobrinha!
Se esmerou na descrição, nos detalhes! Parabéns!

_TaTHa_ disse...

É tio Guto...
Uma caracteristica q foi nascendo sem que eu percebesse.
E tem se tornado uma marca nos textos

=)

Graça Taguti disse...

Adorei, Tatha, grande veia literária! Só gostaria que o conto se alongasse um pouco mais;) Eu queria mais...;)) O primeiro conto?? Parabéns, querida.
Quero degustar outros... Grande abraçoo!! Graça Taguti